Síntese: O Leitor se estrutura em dois personagens: Michael Berg (David Kross/Ralph Fiennes) e Hanna Schmitz (Winslet). Primeiramente temos uma rápida visão de Michael já adulto, em 1995. Depois é apresentado um momento do passado do personagem, em 1958, na Alemanha, quando ele, aos 15 anos, conhece, por acaso, uma mulher solteira de 35 anos que trabalha como cobradora de passagem de bondinhos, Hanna, e fica fascinado por ela. Os dois se envolvem em uma relação basicamente sexual, mas que, aos poucos, atinge o ponto sentimental. Hanna inicia Michael sexualmente. Ambos passam tardes juntos, deleitando-se corporalmente e através da literatura. Michael passa a ler várias obras literárias como: Horácio, Homero, Tolstói, Tchékhov, Schiller para Hanna, que fica simplesmente fascinada por estas. Entretanto, depois de um tempo, Hanna desaparece e Michael só torna a vê-la oito anos depois, quando ele é um estudante de direito e ela, uma acusada de nazismo. Na Siemens, era uma das encarregadas de selecionar mulheres para o campo de concentração e a morte.
Michael assiste aos depoimentos com a alma devastada. Ao mesmo tempo, no curso de direito, um professor indaga se países são governados pela moral ou pelas leis. É a culpa coletiva e a banalidade do mal. Os responsáveis pelos genocídios nos campos de concentração têm mesmo culpa? E o professor questiona não a culpa moral, mas a culpa legislativa – como professo de Direito que é. Durante a guerra, a Alemanha aceitava o genocídio dentro de suas normas legislativas. O que acontecia, segundo o professor, era simplesmente o cumprimento da lei. E se alguém tinha de ser condenado, deveria ser os responsáveis pela promulgação da lei.
Correlacionando textos:
A leitura é de capital importância para o indivíduo, através dela adquirimos diversos conhecimentos, ficando assim, enriquecidos com novos vocábulos e novas experiências. A leitura nem sempre se deu da forma como imaginamos, da maneira com a qual estamos acostumados: solitariamente, silenciosa e intimamente, de modo a não dificultar a concentração. Àquela época, essas idéias seriam execráveis. Simplesmente o fato de ler em silêncio já era, por demais, estranho. Era espantoso que se lesse sem oralizar, pois muitos nobres, do século IV d.C. ao século XIV, precisavam falar as palavras para compreender o texto.
Ainda mais esquisito, àquele tempo, seria essa intenção de que todos devem ler, e ler, sobretudo, romances, que poderiam comprometer a moral das mulheres. Acreditava-se que, lendo romances, elas corriam de se identificar com as personagens. Temia-se a proximidade estabelecida entre o real e o fictício. Chegou-se ao ponto de, na França, ser proposta uma lei que proibiria a criação, a edição e a circulação de romances.
Assim, como boa parte da Europa se preocupava em proibir e dificultar a leitura, as formas de leitura e as concepções sobre o ato de ler mudaram. Márcia Abreu aborda, em seu texto, “Diferentes Formas de Ler”, que a nossa idéia de ler está relacionada aos pensamentos e imagens construídos nos séculos XVIII e XIX. Os livros vêm, desde então, se tornando símbolo de alto intelecto e posição social. A maneira como as pessoas são retratadas em pinturas, com vários livros em volta, indicam suas vontades de evidenciar o íntimo.
O texto “Diferentes Formas de Ler" traz a ideia de diversidade de leituras assim como no filme, em que Michael ler para Hanna diversos tipos de textos, como revistas em quadrinhos, literatura erótica, sobretudo poesia e romances.
No texto de "Márcia Abreu", a autora relata sobre as mulheres de antigamente que tinham acesso controlado à leitura, havia um preconceito de que contos e romances poderiam ser prejudiciais, por causa da identidade estabelecida entre elas e as personagens que se propunham à desejos pecaminosos. No filme "O Leitor", também pode-se notar o preconceito em relação à mulher, nas cenas nas quais Michael aparece, quer seja no colégio, ou na faculdade, a predominância é masculina e durante as refeições em família, era o pai de Michael que determinava a decisão final.
A falta de leitura foi um fator agravante à condenação perpétua de Hanna. Analfabeta, envergonhou-se da sua condição intelectual e se viu obrigada a se acusar para não admitir o seu analfabetismo.
No texto Koch afirma que a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que "tudo está dito no dito". Se, na concepção anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenções do autor, nesta concepção, cabe-lhe o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do texto. Em ambas, porém, o leitor é caracterizado por realizar uma atividade de reconhecimento, de reprodução. No filme Hanna exerce a função de cobradora de bonde conferindo se os passageiros são portadores do ticket de transporte; mora em um simples apartamento, em um modesto bairro. Ele, ao contrário, pertencendo a uma família burguesa para a qual a educação é um capital muito valorizado mora em uma residência muito confortável. Na ocasião em que mantinham um caso amoroso, quando se encontravam, Hannah propunha a Michael que lesse para ela: Homero, Tolstoi, Dickens, Goethe. Vamos nos dando conta no decorrer da história, assim como o adolescente, de que ela não sabia ler e nem escrever, algo que lhe causava muito constrangimento e vergonha. O encantamento de Hannah diante do jovem leitor, certamente, não se dava, apenas, pela riqueza das obras, pela identificação com os dramas vividos pelas personagens. O que fascinava Hannah era a desenvoltura com que Michael lia sua capacidade de dar vida às palavras escritas, variando as entonações, as vozes, procurando assim ambientar as histórias, recriando cada cenário e apresentando à sua ouvinte atenta todo um universo de sentimentos e tramas. Ele lhe enviava gravações com a leitura das obras literárias que embalavam os encontros dos dois. Hannah, então, procurou os livros na biblioteca da cadeia e foi decifrando os textos com a ajuda da voz de Michael. Assim, tornou-se leitora e arriscou a escrever cartas ao “menino”, sempre pedindo uma resposta, um reconhecimento, algo que talvez a redimisse e lhe desse algum lugar no mundo dos homens.
Aquele que está se formando leitor precisa de mediação. O que nos aproxima dos livros não são eles em si, são as pessoas – daí a importância da mediação, assim a escola precisa despir-se da autoridade e se humanizar, partindo de uma valorização não apenas do aspecto cognitivo, mas também dos sentidos.
Ler não é hábito, é valor. A literatura é um objeto de fruição e reflexão. De estudo, de prazer, de espelhamento do ser humano sobre os embates da existência. A literatura deixa perguntas, não dá respostas e isto vai desenhando o mundo de outras formas.
Para a leitura do filme é necessário conhecimento do mundo, pois se entende toda a experiência de vida do leitor, tudo o que ele já viu, já leu, já ouviu, em sua vida. Muitas vezes o texto traz referências de coisas ou fatos ocorridos há tempos, ou fatos históricos, mitos, crendices, folclore, coisas enfim, que o escritor, na verdade, pretende dialogar com o leitor sobre elas, ou, trazer à lembrança do leitor esses fatos. No filme vemos claramente Kate Winslet... Chegar à fase adulta sem qualquer alfabetização. Embora o filme não forneça elementos que expliquem o porquê da personagem, Hanna, chegar à fase adulta sem qualquer alfabetização, fornece elementos de sobra para construir um personagem que, devido à carência e vergonha causadas por esse analfabetismo, acaba por brutalizar-se e às suas relações.
O amor à leitura torna ainda mais intensa à vergonha pela condição de analfabeta e ela se vale de todas as oportunidades/pessoas para se aproximar desse universo proibido que sãos os livros.
Seus empregos, sua vida, suas relações... Tudo é pautado por essa ânsia de conhecimento das palavras, culminando por levá-la à prisão perpétua, não apenas para esconder um grande segredo, mas sua grande vergonha.
A leitura de romances apresenta como a fundamental fonte de conhecimento alem de que reforça a posição masculina como dominadora da intelectualidade essa observação pode ser notada em cenas do filme onde mostra o garoto como a fonte de conhecimentos acadêmico.
Existem três cenas com a intenção de re-significar a leitura sobre o leitor contemplativo, mediativo da obra de Santaella, pois ambos revelam a atração dos sentidos humanos pelo “universo letrado”.
A leitura pode ser circunstancial considerando-se a realidade de cada pessoa que lê ou ouve alguma história. O filme revela que embora não haja o domínio da língua falada ou escrita, há o fascínio pelo o quê se pode descobrir a partir do domínio da leitura, na cena 01 quando a mulher , Hanna Schmitz, passou a conhecer outras histórias a partir de um encontro ao acaso com o adolescente Michael Berg. A partir de então foi possível conhecer outras histórias da forma mais diversificada possível.
A possibilidade do ser humano se libertar, emancipar através da leitura dos signos e dos objetos, conseguindo ler nas entre linhas, ou seja, entendendo não só o que está revelado, mas o sentido do que está implícito ao que se quer dizer o afasta de uma posição vulnerável dos interesses que por vezes são alheios a sua própria vontade, conforme cena 02 quando a mulher confia seu destino a outra pessoa sem lhe revelar diretamente seu desconhecimento dos signos linguísticos. É importante notar que há uma troca de conhecimentos onde a mulher tem toda uma experiência de vida não só por ser mais velha do que o rapaz, mas por estar inserida em outro contexto familiar, econômico e social.
No início do filme (cena 01) foi possível assistir o uso de uma leitura acompanhada por uma articulação vocal, uma interiorização do texto pelo adolescente que fez uso da sua voz o corpo dos escritores lidos, enriquecendo-a com sua linguagem corporal de quem interpreta uma história, contudo a mesma retrata uma pessoa sem o domínio da língua escrita.
Neste momento, fazendo um contraponto com a obra de Santaella se faz necessário recordar que foi a partir da Idade Média com a evolução tecnológica do papel impresso quando se tornou possível a leitura silenciosa, contemplativa, reflexiva que possibilitaria idas e vindas sobre a obra e a evolução do pensar de forma mais sistematizada com o que se lê e se escreve. Este tipo de leitura que pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora implicando o leitor estar propício a se concentrar num outro “mundo” que o afasta do local em que se encontra fisicamente, ou seja, proporciona uma mobilidade a quem aparentemente permanece no mesmo lugar.
A partir do século XIX a presença dos livros em diversificados lugares trouxe a possibilidade de aumento do número de leitores de natureza mais variada possível propiciando uma relação íntima entre o leitor e o livro, leitura do manuseio, da intimidade, de acordo com Santaella “a leitura um ato de trabalho: por trás da aparente imobilidade, há a produção silenciosa da atividade leitora [...], pois o ato de ler é um processo complexo que envolve não apenas a visão e percepção, mas inferência, julgamento, memória, reconhecimento, conhecimento, experiência e prática”.
Em referência a cena 03, ler traz a recordação de outros livros, pinturas, outras artes, situações, sentimentos, desperta desejos, se revela num acúmulo de informações que avançam de acordo com o movimento contemplativo e de ruminância de cada leitor habitual. A imaginação tem a oportunidade de ir longe ou perto de acordo com a vontade do leitor que não sofre com as urgências do tempo permitindo-se retornar e re-significar o seu conhecimento.
O tipo de leitura irá variar conforme a intelectualidade e intencionalidade de cada leitor.
O texto "Leitura na intimidade" mostra o prazer vindo da leitura de acordo com o conforto corporal do leitor, trazendo assim, diversos leitores comentando sua preferência do local que lhe for conveniente para ler, além de abordar principalmente a cama como local de leitura, assim como no filme "O Leitor", Hanna, mulher mais velha com condição menos favorecida, cobradora, relaciona-se com um jovem, chamado Michael de 15 anos e, em seus encontros amorosos ela pedia para que ele lesse textos para ela. As leituras eram realizadas em diversos locais, mas geralmente eram feitas na cama, buscando assim um lugar íntimo e particular para mergulhar num mundo fictício e imaginário, havendo também uma relação não só no texto de Alberto Manguel, mas, também com o título que passa a ideia de privacidade.
Ler é essencial. Através da leitura, testamos os nossos próprios valores e experiências com as dos outros. No final de cada livro ficamos enriquecidos com novas experiências, novas ideias, novas pessoas. Eventualmente, ficaremos a conhecer melhor o mundo e um pouco melhor de nós próprios. A leitura é algo crucial para a
aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso
vocabulário, obter
conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.
O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim com certeza ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz. Saber ler e compreender o que os outros dizem nos difere dos animais irracionais, pois comer, beber e dormir até eles sabem, é a leitura que proporciona a capacidade de interpretação.
A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo Angela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos.
Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns conhecimentos prévios do leitor: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação.
Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, 'cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre uma releitura. [...] ' Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos etc. O único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquirirmos mais conhecimentos e cultura - o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho exigente -, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais do mundo em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão. E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas.
Como afirma Daniel Pennac, "o verbo ler não suporta o imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura se resume à simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.
PENNAC, Daniel (1998). Como um Romance. Tradução de Leny Werneck. 4ªed. Rio de Janeiro: Rocco.